Quem nunca sentiu um soninho depois do almoço que atire a primeira almofada! A famosa “siesta”, é um hábito tradicional espanhol, mas acomete seres humanos de diversas partes do mundo, independentemente de nacionalidade. Isso porque, esse comportamento é mais do que uma prática cultural, já que, após as refeições, o nosso corpo precisa nos induzir à quietude para que ele possa fazer a digestão e absorção adequadas dos nutrientes advindos da alimentação.

 

O nosso sistema nervoso autônomo é formado por duas partes, (i) uma parte chamada sistema nervoso simpático, o qual atua ativamente nos processos de mastigação e digestão dos nutrientes que ocorrem no trato gastrointestinal; (ii) e outra parte chamada sistema nervoso parassimpático, o qual atua no processo de absorção e distribuição dos nutrientes para os órgãos e tecidos, através da corrente sanguínea. O cochilo pós-almoço é, normalmente, induzido por essa segunda parte do sistema nervoso autônomo, a qual também tem relação com a região cerebral responsável pela homeostase do sono [1].

 

Atualmente, sabe-se que os benefícios desse descanso após o almoço vão além da necessidade do corpo direcionar as energias para a absorção adequada dos nutrientes. Diversas evidências comprovam que ocorre melhora na performance cognitiva após o cochilo, especificamente no que concerne ao foco, produtividade e criatividade [2-4]. O cochilo promove ainda benefícios fisiológicos, visto que esses momentos de descanso reduzem os níveis de cortisol, o estresse psicológico e a pressão arterial média, resultando em proteção à saúde cardiovascular [5, 6].

 

Esse efeito positivo sobre a saúde metabólica é extremamente relevante, ainda mais diante dos crescentes números de pessoas acometidas por doenças cardiovasculares, dislipidemias e diabetes mellitus tipo II [7]. Da mesma forma que as pesquisas falam dos benefícios do cochilo, elas também alertam que, dependendo da duração, longos cochilos podem trazer riscos à saúde. Pesquisas têm demonstrado que os cochilos não devem ultrapassar os 30 minutos, pois além de desregular o ciclo do sono noturno, longos períodos de sono diurnos estão associados com maior risco de desenvolver problemas cardíacos e síndrome metabólica [8-10].

 

Recentemente, Gribble et al. (2021), analisaram o efeito do tempo do cochilo em mais de 9 mil voluntários, durante quase 7 anos de acompanhamento, e reportaram que cochilos diurnos com média de 15 minutos podem reduzir o risco de síndrome metabólica, enquanto quando acima de 30 minutos, apresentam uma associação positiva com o desenvolvimento da síndrome [10]. Yamada et al. (2015 e 2016) já haviam relacionado a sonolência diurna excessiva ou cochilos regulares acima de 60 minutos/dia com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo II [8, 9].

 

É importante lembrar que a manutenção da saúde metabólica depende da combinação de diferentes fatores como a prática de exercícios físicos, boas escolhas alimentares, redução do consumo excessivo de sal, açúcar e bebidas alcoólicas, noites regulares com sono de qualidade, entre diversos outros. Em resumo, hábitos vividos de forma equilibrada podem promover diversos benefícios na promoção da saúde e um simples cochilo após as refeições pode ser um aliado para qualidade de vida a curto, médio e longo prazo, lembrando que 30 minutinhos já são suficientes!

 

Produzido por: Renata Cavalcanti, PhD e Pietra Sacramento Prado, BSc.

 

 

Referências

  1. Bazar, K.A., A.J. Yun, and P.Y. Lee, Debunking a myth: neurohormonal and vagal modulation of sleep centers, not redistribution of blood flow, may account for postprandial somnolence. Med Hypotheses, 2004. 63(5): p. 778-82.
  2. Dutheil, F., et al., Effects of a Short Daytime Nap on the Cognitive Performance: A Systematic Review and Meta-Analysis. Int J Environ Res Public Health, 2021. 18(19).
  3. Lovato, N. and L. Lack, The effects of napping on cognitive functioning. Prog Brain Res, 2010. 185: p. 155-66.
  4. Ru, T., et al., Effects of a short midday nap on habitual nappers’ alertness, mood and mental performance across cognitive domains. J Sleep Res, 2019. 28(3): p. e12638.
  5. Brindle, R.C. and S.M. Conklin, Daytime sleep accelerates cardiovascular recovery after psychological stress. Int J Behav Med, 2012. 19(1): p. 111-4.
  6. Hausler, N., et al., Association of napping with incident cardiovascular events in a prospective cohort study. Heart, 2019. 105(23): p. 1793-1798.
  7. Oliveira, L.V.A., et al., Prevalence of the Metabolic Syndrome and its components in the Brazilian adult population. Cien Saude Colet, 2020. 25(11): p. 4269-4280.
  8. Yamada, T., et al., Daytime Napping and the Risk of Cardiovascular Disease and All-Cause Mortality: A Prospective Study and Dose-Response Meta-Analysis. Sleep, 2015. 38(12): p. 1945-53.
  9. Yamada, T., et al., J-curve relation between daytime nap duration and type 2 diabetes or metabolic syndrome: A dose-response meta-analysis. Sci Rep, 2016. 6: p. 38075.
  10. Gribble, A.K., et al., Risk of Developing Metabolic Syndrome Is Affected by Length of Daily Siesta: Results from a Prospective Cohort Study. Nutrients, 2021. 13(11).

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